16 maio 2009

Mais uma estrela no céu.

Foto MB


Era um homem bom e talvez um dos mais sãos seres humanos que conheci. Homem nascido, criado, vivido e envelhecido no campo, primava pela rudez de quem não conheceu a linguagem dos afectos a não ser pela essência que transportou consigo à nascença, quando aterrou neste mundo que para si nunca foi pai. Trabalhou, cuidou dos filhos como pôde e levou a vida como ela podia ser levada - com resignação.
Recordo o seu passo agitado, as suas mãos de quem desde sempre mergulhou na terra, a sua baixa estatura, o seu olhar vivo, as suas palavras afiadas, apuradas pela inteligência que apenas as barreiras da vida não permitiram fazer brilhar noutros céus.
Sabe bem mais da vida quem a olha por dentro. E o bom tio João, ao seu jeito que muitos chamavam de tolo, sorrindo sarcásticos, do alto da sua ignorância, sabia muito da Vida!
Este homem, muitas vezes ouvido mas raras vezes escutado, marcou-me na jovem adolescência com uma história que nunca mais esqueci, um relato apaixonado e comovido sobre um fogo de artificio a que foi assistir, propositadamente, às Festas da Senhora da Agonia, em Lamego, em que confessava ter chorado de comoção, perante tanta magia de forma e cor.
Soube há poucas horas que partiu, sem avisar. Talvez estas sejam as melhores despedidas.
Até já, tio.

1 comentário:

  1. Lamento.
    É a unica coisa que, acredito, não controlamos. Quando tem de ser, é!

    ResponderEliminar

outros lugares em mim...